domingo, 16 de fevereiro de 2014

Viagem de Recife-PE a Natal-RN de bicicleta

Relato de como realizei a viagem de bicicleta de Recife - PE a Natal - RN.
Distância: 316 km pedalados.
Período: 10 a 13 de fevereiro de 2014.

Todo o trajeto foi realizado seguindo o traçado a BR-101. Nesse trecho, a rodovia está totalmente duplicada e o generoso acostamento, perfeito. Devido a ótimas condições da estrada, pedalando até 100 km por dia, não me sentia exausto ao final de cada dia, mesmo com as subidas ou sol forte. Planejei para que o percurso diário alcançasse no máximo tal quilometragem. Calculei as distâncias entre as cidades existentes no trecho pelo Google Maps. Alguns dados que não encontrei no GoogleMaps obtive no Wikimapia (www.wikimapia.org).
Quanto ao horário, prefiro iniciar a pedalada do dia junto com os primeiros raios do sol, de tal modo que às 15:00 ou 16:00 horas já esteja na cidade destino do dia. Optando por este horário, evitei, em caso de atraso como dificuldade em encontrar uma pousada ou por alguma eventualidade como um pneu furado, viajar à noite na estrada.

Primeiro dia: segunda-feira, 10.02.2014
Após final de semana de muita chuva, a segunda-feira amanheceu com céu encoberto e com chuviscos.
Saí de casa às 9h, um horário que normalmente considero tarde para iniciar uma viagem de bicicleta. A chuva já tinha cessado, mas havia ainda poças de água pelo caminho.
Minha intenção era de não forçar muito no primeiro dia. Optei por fazer uma quilometragem menor no início.

Rodovia BR 101 - Abreu e Lima, Pernambuco.


BR 101 - Igarassu





Ao meio-dia almocei em Botafogo, Itapissuma - PE. Na verdade, fiz um lanche com dois copos de suco de acerola. Um vendedor de coco perguntou se eu estava pagando promessa, ao descobrir de onde eu vinha e aonde pretendia chegar. Respondi que estava fazendo a viagem por diversão.

Na saída da lanchonete, percebo o pneu traseiro murcho.
A menos de 100 metros, encontro uma borracharia, graças a esta curiosa arte que me chamou a atenção.




Houve uma pequena dificuldade em retirar a roda devido a falta de uma ferramenta específica na borracharia. Emprestei a chave de roda que levei na minha maleta. O sol batia forte demais dentro daquela garagem que fazia um calor insuportável. Eu transpirava tanto que o borracheiro me ofereceu um copo de água mineral bem gelada. Depois fiquei esperando do lado de fora na sombra de uma árvore. Lá fora estava muito mais fresquinho! Após o conserto, às 12:45 prossegui viagem. Preço do serviço: R$ 3,00. Dei R$ 5,00 ao borracheiro e disse que ele poderia ficar com o troco.

Já na saída de Botafogo, peguei esta grande subida.


E também uma grande descida para novamente já enxergar outra subida.

Logo após a subida acima, onde há o viaduto sobre a BR, desviei um pouco da rota da BR-101 e entrei à direta, seguindo, agora pela Rodovia que liga às Praias de Ponta de Pedras, Catuama e Carne de Vaca. 
Queria chegar à Praia de Carne de Vaca. Se encontrasse a balsa ou um barco que fizesse a travessia entre a divisa de Pernambuco e Paraíba, atravessaria para o lado paraibano. Acontece que a rodovia estadual que liga a BR-101 às praias, apesar de ser uma estrada asfaltada, não há acostamento, ou onde tem, é muito estreito. A rodovia é mão-dupla e há trechos com declives e aclives acentuados. Há movimento de carros, ônibus e caminhões. Além disso, o traçado é muito sinuoso. As curvas acontecem inclusive em descidas íngremes. Achei arriscado continuar pelando aquelas condições. Adentrei só uns 5 km nesta rodovia e decidi dar meia volta e retornar à BR-101 o quanto antes. Dessa forma, acabei acrescentando aproximadamente 10 a 11 km à viagem.

Esta não é a BR 101. É uma rodovia estadual que liga a BR 101 às Praias de Ponta de Pedras e Carne de Vaca. Não encontrei o nome da Rodovia no mapa.
De volta à BR-101, pude continuar a viagem com mais tranquilidade. Avistei três ciclistas correndo no mesmo sentido em suas bicicletas speed que me ultrapassaram numa velocidade tamanha que nem pude registrar em foto.

Agora já estou praticamente na cidade de Goiana.


Neste ponto, vários senhores estavam participando de uma corrida a pé. Eles vinham por este acostamento no sentido contrário. Tive que parar a bicicleta algumas vezes. Perguntei a um deles até onde era a corrida. "É até lá em cima daquele morro". Haja disposição!
Por volta das quinze horas cheguei em Goiana-PE para procurar uma pousada e descansar.
Na primeira pousada que parei em Goiana, disseram que não havia vaga.

Já na segunda pousada, fui atendido pelo proprietário, Sr. Gutemberg, homem muito atencioso que ofereceu um quarto por R$30,00. Ele disse que poderia deixar a minha bicicleta no restaurante, que não teria nenhum problema. E ainda completou: "à meia-noite vou fechar o restaurante, e sua bicicleta vai ficar em local seguro, assim você pode ficar tranquilo até a manhã do dia seguinte". Só que eu não poderia ficar esperando o horário de abertura do restaurante no dia seguinte. Eu agradeci e disse que precisava reiniciar a viagem de manhã, bem cedo. O Sr. Gutemberg então falou: "Pode subir para o quarto com a bicicleta". A escada para o primeiro andar do estabelecimento era tão apertada que mal passa uma pessoa de cada vez. Imagine o sufoco que foi para eu conseguir subir junto com a bicicleta naquele aperto. Pelo menos eu fiz uso da vantagem de ser magro. Mesmo assim, teve hora que me desequilibrei e quase eu e a bicicleta íamos rolando escada abaixo. Sorte que, pelo menos, tinha corrimão que dava para apoiar as mãos com firmeza. Pensei: "Tem razão o Sr. Gutemberg ter oferecido um cantinho no restaurante para deixar a bicicleta". Custou, mas consegui subir. Agora vou deixar para o dia seguinte para pensar em como descer com a bicicleta.

Após um banho e mais renovado, descansei um pouco e logo escureceu.
Obviamente, deixei a bicicleta no quarto e desci para tomar uma deliciosa sopa com pão.
Liguei para minha esposa informando que já estou próximo a divisa com a Paraíba.

Pernoite em uma pousada em Goiana-PE. Bati esta foto na manhã seguinte.

75km pedalados no primeiro dia.
Velocidade média: 14,5km/h no primeiro dia.
5h09m pedalados no primeiro dia.

Segundo dia: terça-feira, 11.02.2014
Distâncias aproximadas:
Goiana a Divisa PB/PE: 7km.
Divisa PB/PE a João Pessoa: 42km
João Pessoa a Mamanguape-PB: 54km

Novo dia!
Agradeci a Deus por mais um dia e esta oportunidade maravilhosa.

Descer a escada da pousada com bicicleta não seria fácil. Era arriscado.
Tirei toda bagagem da bicicleta para deixá-la mais leve possível. Com a mão esquerda eu segurava com toda força o corrimão e com a direita, o guidão e, ao mesmo tempo, o freio. Se soltasse o freio ou o corrimão, já era! Mas como dizem, para descer todo santo ajuda! Ao descrever esta cena, agora está sendo engraçado, mas na hora, eu estava ficando nervoso e assustado.

Pouco antes das 6 horas, eu estava na estrada.
Maravilha! Manhã de sol! Dá gosto de ver! Viva!
É uma alegria muito grande ter um espetáculo da natureza como este. De bicicleta, dá para encher de ar puro os pulmões e sentir-se como parte da natureza.

A felicidade que sentia de estar preparado para enfrentar a primeira e grande subida do dia era tamanha que o sorriso "chegava de orelha a orelha"

Já estou no posto fiscal em Caaporã, Paraíba! Beleza! Venci a primeira grande subida do dia!

Viajando em solo paraibano.

Longo trecho em declive. Se prepare, pois lá vem subida de novo!


Às 7:45h fiz uma parada de 15 minutos para o café da manhã. Restaurante com bom movimento. Por ser em pleno dia útil, a maioria dos clientes estava com farda de suas empresas e alguns até com crachás. E eu, em plenas férias, viajando de bicicleta.

Avistei várias vezes caminhões carregando uma estrutura cilíndrica enorme que ocupa quase duas faixas da rodovia, seguidos por batedores. Salvo engano, tratam se de torres, fabricadas em Camaçari-BA, para os geradores de energia eólica em Rio Grande do Norte.

09:20h. Já estou chegando em João Pessoa. 

Placa "artamente intenacioná"


Às 10h30m cheguei em João Pessoa. No posto de gasolina BR próximo ao cruzamento da BR 101 com BR 230, há uma área de apoio para caminhoneiros com boa estrutura. Banheiros limpos, área de descanso com poltronas, tv, restaurante. Tomei um banho revigorante e almocei às 10h40m. Às 11 horas já estava viajando em direção a Mamanguape.

Distância que falta pedalar para concluir o percurso planejado para o dia: 52 km.

Os primeiros quilômetros após João Pessoa é plano. Estava até animado com a boa velocidade média alcançada. Até me deparar com esta primeira grande subida.

Primeira grande subida após João Pessoa. A pista esquerda segue para Campina Grande e a de cá, direita, para Natal.

Dando uma olhadinha para trás.

O dia estava ensolarado, sem nuvens. Peguei sol a pino. Precisei de muito protetor solar no rosto. Ainda improvisei um anteparo na cabeça com uma camisa com proteção UV para amenizar a radiação solar que estava, sem dúvida, em nível extremo. Sorte que eu estava levando dois litros de líquido para beber entre água, suco de laranja e água de coco.

No meio do nada avistei este posto. Uma pausa para me refrescar no ar condicionado e tomar um suco gelado. E depois descansar 5 minutos na sombra de uma árvore.

Fiquei admirado com o tamanho do inseto caído no chão, próximo ao meu pé. 

Altimetria João Pessoa (PB) a Natal (RN)
Há muitas subidas no percurso paraibano, principalmente nesse trecho entre João Pessoa a Mamanguape.
São tantas subidas que, mesmo depois de uns vinte quilômetros de pedalada após deixar a capital paraibana, dá para avistar do alto das montanhas, a bela e simpática cidade de João Pessoa.
Pouco antes de chegar a Mamanguape há um pico de elevação com mais de 200 metros de altitude.
Obtive o gráfico de altimetria acima da seguinte forma: No Google Maps cliquei em "Como Chegar", Digitei no Ponto A: "João Pessoa" e no Ponto B: "Natal". Basta copiar o link do percurso gerado pelo GoogleMaps, ir para a página http://www.gpsvisualizer.com/profile_input e colar no campo Or provide the URL of data on the Web 
No trecho entre Recife e João Pessoa já havia feito uma viagem de bicicleta em maio de 2013. Para conferir, é só clicar no link Recife - João Pessoa de bicicleta

Falta pouco para um merecido descanso

58 km para a Divisa RN/PB

Lição de concordância nominal e verbal na estrada. Só de bicicleta, ou a pé, percebe-se a correção para o singular das duas primeiras palavras na placa.

Pode me multar se eu exceder 100km/h na subida!!!

Fiquei curioso para saber para que serve este esta parada de ônibus no mato, no meio do nada. Olhei para frente, para os lados, para trás e não vi um único imóvel, nem obra.

Admirando a paisagem por onde acabei de passar, isto é, uma longa descida seguida de uma longa subida.
Chegando em Mamanguape. Os resíduos sólidos que estão poluindo o acostamento são pedaços de cana-de-açúcar que caem dos treminhões, caminhões com três vagões, ao reduzirem a velocidade na entrada da cidade. Tive que tomar cuidado para não perder o equilíbrio ao passar por cima.


Às 16:00 cheguei em Mamanguape para pernoite.
Parei num posto de gasolina para perguntar onde fica uma pousada.
Na primeira pousada que me indicaram não havia vaga.

Achei outra: a Pousada do Leão em Mamanguape: R$ 35,00. Ambiente familiar.
A pousada, naquele momento, estava sem energia elétrica.
O dono da pousada, Sr. Leão, disse que a concessionária de energia estava fazendo manutenção no bairro e que em breve a energia seria restabelecida. Como eu estava desejoso em tomar logo um banho, não tive dúvidas: entrei logo no apartamento para procurar o banheiro. Deixei a porta entreaberta, mas a claridade não chegava ao recinto do banho. Nem me lembrei da lanterna da bicicleta, que poderia ter usado. Tirei um espelho do banheiro e coloquei no quarto para, com o reflexo, iluminar o banheiro.

Banho tomado e sentindo-me renovado, fui dar uma volta a pé pela cidade.
No portão da pousada, o Sr. Leão perguntou de onde eu vinha. Sugeriu eu conhecer Baía da Traição, bela e famosa praia do litoral norte paraibano. Perguntei a distância e disse que são 30km, só de ida. Agradeci a sugestão, mas concordamos que não faria parte do meu plano naquele momento, pois iria desviar pelo menos 60km do meu caminho.

Ao ver outros estabelecimentos comerciais sem energia, fiquei mais confiante no que o dono da Pousada disse. Havia pairado um leve receio de que só a pousada estivesse sem energia e ficasse às escuras sem poder carregar, à noite, a bateria do meu celular.

Para evitar carregar muitos equipamentos eletrônicos na bicicleta, levei meu smartphone com câmera fotográfica e GPS inclusos. Dessa forma, não precisei de notebook, câmera fotográfica, aparelho de GPS, caderno de anotações e mapas em papel.
Fiz um lanche num restaurante da esquina e antes de voltar à pousada, a energia elétrica já estava religada.
Um posto de gasolina, deparei com uma arte com textos formando um coração. Cheguei até mais perto para conferir o que estava escrito:

Sábias palavras que encontrei na parede de um posto de gasolina em Mamanguape.

À noite, voltei ao mesmo restaurante e pedi uma sopa. Disseram que a sopa acabou, mas tinha macaxeira com carne guisada. Não sei se era a fome ou a especialidade da casa, mas a macaxeira com carne estava ótima.
Liguei para minha esposa para avisar que já passei da metade do percurso. Agora falta menos da metade!


103km pedalados no segundo dia.
Velocidade média no segundo dia: 14,5 km/h
7h07m pedalados no segundo dia.

Terceiro dia: quarta-feira, 12.02.2014
Distâncias aproximadas:
Mamanguape a Divisa RN/PB: 40 km
Divisa RN/PB a Canguaretama: 16 km
Canguaretama a Goianinha: 14 km.
Goianinha a São José de Mipibú: 22 km.

Verifiquei, consultando o Google Maps, que a cidade ou povoado ao norte mais próximo de Mamanguape fica a uma distância de 56 km pela BR-101. Chama-se Canguaretama, já no Estado de Rio Grande do Norte. Eu, que nunca havia imaginado transpor de bicicleta uma distância de 56km sem cidades ou vilarejos pelo caminho, sentia como se fosse atravessar um deserto! Isso me fez vibrar com o sabor de aventura. Quase não consegui dormir na véspera! Parece que a bicicleta potencializa a emoção. Atravessaria, ainda, pelo caminho, duas reservas biológicas e uma terra indígena!

Pouco antes das cinco horas da manhã, o despertador toca.
Muito obrigado Deus por mais um dia!
Às 5:00h já estava tudo pronto para sair da pousada em Mamanguape.
Mas percebo o pneu dianteiro murcho. Não bastaria apenas encher com minha bombinha de ar, pois sem dúvida havia um vazamento, para o pneu que na véspera estava cheio, estar agora murcho daquele jeito. Como se tratava de pneu dianteiro, sem maiores dificuldades, eu mesmo fiz a troca da câmara de ar, ainda na pousada.

Retomei a estrada às 05h20m.
Ainda em Mamanguape-PB, na calçada deste trecho, avistei várias pessoas, homens e mulheres, jovens ou idosos, antes das 6 da manhã, fazendo caminhada ou corrida.

A sensação de liberdade numa bicicleta é algo fantástico e maravilhoso.

Agora já estou na zona rural, mas sem sair da Rodovia, seguindo pela mesma BR 101.
Bom dia, vaquinhas!
Neste ponto peguei a primeira e única chuva de toda a viagem. Chuva fina e rápida.
Garoa ao deixar a cidade de Mamanguape
Somente de bicicleta é possível e imaginável parar a cada 2km para vislumbrar a paisagem e bater uma foto.
Felicidade de contemplar o alvorecer e emoção de sentir a natureza em todo seu esplendor na estrada.

Em direção à divisa Rio Grande do Norte / Paraíba, passando pela Terra Indígena Jacaré de São Domingos, Reserva Biológica Guaribas SEMA II e Reserva Biológica Guaribas SEMA I

Após pedalar por mais de duas horas, inesperadamente me deparei com um restaurante à beira da estrada. Parada para um cafezinho. A dona do estabelecimento não quis cobrar pelo café, oferecido em uma grande xícara de vidro. Muito obrigado pela gentileza. Se fosse em shopping, só um cafezinho custaria mais de 5 reais.

Pausa para café.
Às 08h50m alcancei a divisa entre os Estados de Rio Grande do Norte e Paraíba. Já estou entrando no terceiro Estado nesta viagem, cruzando a segunda divisa!

Rio que faz a divisa entre Rio Grande do Norte e Paraíba

Momento especial da viagem: Passei por Pernambuco, Paraíba e agora já estou prestes a entrar em Rio Grande do Norte!




Dia mais ameno. Céu encoberto por muitas nuvens ameniza o calor!

Em trechos relativamente planos como a foto acima, viajei a uma velocidade de 25 a 28km/h.
Já nas subidas, colocando a 1ª marcha, a velocidade cai para 6 a 7 km/h.
Nas descidas, prefiro manter os freios acionados durante todo o declive, para manter a velocidade em torno de 35km/h e no máximo a 40km/h. Não quero bater recorde de velocidade em declives.
Nas subidas com maiores elevações, os aclives tem uma extensão de 3km, mas na maioria das vezes, a extensão é de 2,5km.
Invariavelmente, depois de uma grande descida, há uma grande subida.
Após uma longa subida, não vem logo uma descida. Há, normalmente, longo trecho plano.
Lendo relatos de outros ciclistas que viajaram por este caminho, já vi descrições como "verdadeira montanha russa" ou "vá ter subidas assim lá nos Andes".
Um aspecto climático que achei muito positivo nesta viagem foi que não peguei o tal do vento contra. Viajando no sentido sul-norte, a predominância de ventos é a favor. Observe a estatística abaixo. Quem já pegou vento contra numa viagem de bicicleta fala que o que atrapalha o avanço de um ciclista não é a alta ou baixa temperatura, chuva ou sol, subida ou descida, mas é o vento contra.

No site www.windfinder.com obtive a seguinte estatística:

Dados baseados em observações feitas entre 3/2005 - 1/2014 diariamente das 7 am às 7 pm, hora local. Você pode encomendar o vento cru e dados meteorológicos em na página de pedidos de dados climáticos históricos.
Mês do anoJanFevMarAbrMaioJunJulAgoSetOutNovDezSUM
0102030405060708091011121-12
Predominante Dir. do vento
Probabilidade de vento
>= 4 Beaufort (%)
26
30
19
24
26
28
36
45
40
36
32
27
30
Média
Velocidade do vento
(kts)
9
9
8
8
8
9
10
11
10
10
9
9
9
Temp. média do ar. (°C)
29
29
30
29
29
27
27
27
28
28
29
29
28
Escolha o Mês (Ajuda)JanFevMarAbrMaioJunJulAgoSetOutNovDezAno
Direcção do vento
Distribuição
Maio(%)
Wind direction distribution João Pessoa Aeroporto May





BR 101, A "INFINITA HIGHWAY". De bicicleta, a emoção é inesquecível.  É uma satisfação incrível. Vale a pena cada sensação da viagem.
IFPE - Campus Canguaretama

Já estou perto de Goianinha, onde vou almoçar. Só mais 10 km.


Nas proximidades de Goianinha - RN.

Chegada a Goianinha - RN


Após o almoço self-service em Goianinha, ao sair do restaurante, caía uma chuva. Pensei que iria pegar a segunda chuva na estrada. Fiquei uns cinco minutos no posto de gasolina observando a chuva, que ia reduzindo de intensidade. Quando peguei a estrada, a chuva parou completamente.
A próxima cidade agora é São José de Mipibú, onde pretendo pernoitar.
O trecho entre Goianinha e S. J. Mipibú é recheado de longos trechos com alternância de aclives e declives. Como não sou atleta, nas subidas pedalava 200 metros e empurrava a bicicleta por mais 100 metros e assim ia revesando comigo mesmo para não me desgastar. Tive uma surpresa numa das subidas.  Um jovem muito prestativo parou sua caminhonete, Hilux, se não me falha a memória e ofereceu-me carona. Fiquei tentado a aceitar, para terminar os últimos quilômetros de subida do trecho até S. J.Mipibú que parecia não ter mais fim. Agradeci e gentilmente recusei a carona. Falei que apenas desci da bicicleta para descansar um pouco, mas que estava tudo bem. Aquele jovem disse que também estava vindo de Recife. Contou-me que certa vez um percurso de 80 km de bicicleta e quase não aguentou. Entendi a razão de ele ter parado o carro querendo me ajudar. Como é gratificante encontrar pessoas boas e prestativas pelo caminho!


Pouco antes das 15 horas, ao chegar à cidade de S. J. Mipibú, perguntei no primeiro posto de gasolina onde fica uma pousada. O frentista disse: "Pousada Macedo, após aquela subida, não tem errada". Após a subida, perguntei para mais duas pessoas e a indicação era o mesmo estabelecimento. Lá chegando, o atendente disse que a pousada estava lotada, pois estava ocorrendo um evento esportivo na cidade. Ele disse que só às 18h poderia informar se abriria uma vaga na pousada e se desocupasse um apartamento, às 19horas disponibilizaria para mim.
Achei que não valeria a pena ficar esperando por algo que nem o atendente sabia confirmar.
Pelo menos um banho frio consegui tomar na pousada. Fiz lá, ainda, um pequeno lanche.
Decidi prosseguir a viagem.

Uns quatro quilômetros após deixar a cidade de S. J. Mipibú, o pneu traseiro furou novamente.
"Não acredito! De novo?".
Naquele momento, eu enxergava três opções:
1) ali na estrada, eu mesmo consertar o pneu. Corria o risco de escurecer na estrada se demorasse no conserto.
2) voltar a pé, empurrando a bicicleta até a Pousada Macedo na esperança de terem aberto uma vaga. Na pousada, eu mesmo faria o conserto ou, no dia seguinte, procuraria uma borracharia.
3) encher o pneu mesmo furado e continuar pedalando até esvaziar novamente, encher de novo e continuar nesse ritmo até encontrar outra pousada ou uma borracharia.
Na hora, não me lembrei da quarta alternativa : encher de capim o pneu, que é uma dica para cicloviajantes: com espátulas afastando o pneu do aro, poderia ter enchido o pneu preenchendo-o com capim, sem precisar tirar a roda do quadro da bicicleta.
Em outra viagem de bicicleta que fiz, havia utilizado pneu aro 26 x 1.90 com cravos para trilha e não furou nenhuma vez. O pneu agarra melhor o solo, portanto, dá mais estabilidade. A desvantagem é que a bicicleta desliza menos, devido a maior aderência, exigindo maior esforço.
Para esta viagem, utilizei pneu aro 26 x 1.50, isto é, mais fino, mais indicado para asfalto liso como neste percurso. Não sei se essa troca deixou a câmara mais vulnerável. Só sei que nas três vezes que o pneu furou foi por conta de pequeno fragmento de arame de pneu de caminhão recauchutado solto no acostamento. Vou comprar fita antifuro e usar na próxima viagem!

Pneu traseiro é mais trabalhoso de consertar pois, para trocar a câmara de ar, é preciso tirar a corrente da catraca de marchas.

Resolvi encher o pneu, mesmo furado, com a minha bombinha de ar e ir pedalando o mais rápido possível. Não queria ficar muito tempo parado na estrada, trocando pneu, para não escurecer na estrada. Por sorte, antes mesmo de o pneu esvaziar novamente, avistei uma borracharia em um posto de gasolina, do outro lado da pista.

Nunca imaginei que iria ficar tão contente em encontrar uma borracharia.

O borracheiro disse que não sabia trocar pneu traseiro em bicicleta de marcha. Eu sugeri desmontar o pneu virando a bicicleta de cabeça para baixo e puxar a câmera sem retirar a roda do quadro. Assim, descobrindo o furo na câmara, é só aplicar o remendo com cola. Um detalhe que não se pode esquecer: tem que procurar e remover o objeto perfurante que pode ainda estar preso no pneu, caso contrário, todo o trabalho vai ser em vão. A câmara de ar vai furar novamente e imediatamente ao enchê-la.

O borracheiro, um simpático rapaz de 17 anos, ficou impressionado ao descobrir de onde eu estava vindo.
Ele disse que também tem uma bicicleta, mas não usa. "Por que?", perguntei. "Porque a minha não tem marcha  e eu ficava cansado até para ir a praia aqui perto". Mas descobri que, na realidade, o motivo de não usar a bicicleta era outro. Ele disse: "Eu ganhei de meu pai uma moto cinquentinha. Agora não ando mais a pé nem para ir à padaria, ali na esquina. É só de moto".

Pronto, após quase 30 a 40 minutos na borracharia, já passando das 16 horas, prossigo viagem.
11 km após São J. de Mipibu, encontro, na margem oposta da rodovia, uma pousada com um nome bem sugestivo, original e criativo: "Pousada BR-101". Nome fácil de lembrar. Diária de R$ 30,00 em apartamento com ar-condicionado, TV e WC. Das três pousadas nas quais pernoitei, achei esta a melhor. Bom atendimento, boa limpeza e bom preço.
Telefonei para minha esposa, avisando que estava em uma cidade antes de Parnamirim e que amanhã completaria a viagem.

110km pedalados no dia.
15,4km/h de velocidade média no dia.
7h05m pedalados no dia.

Quarto e último dia: quinta-feira, 13.02.2014
05:15. Saída da pousada em direção ao destino final: Natal - RN.

Distâncias aproximadas:
13km até o cruzamento da BR-101 com a BR-304 em Natal-RN.
Do cruzamento da BR-101 com a BR-304 são 12 km até a Arena das Dunas.
Da Arena das Dunas até a Rodoviária são mais 3km.

Às 6 horas da manhã cheguei no cruzamento das BRs.
Meu receio era de ter que passar pelo viaduto com enorme movimento de carros e caminhões.
Fiquei por alguns instantes observando e notei que vários ciclistas indo para o trabalho passavam por uma pequena trilha. Seguindo os ciclistas, percebi que o percurso evitara a passagem por cima do viaduto.

Atravessando a ferrovia para evitar passar pelo viaduto movimentado.



Já dentro do perímetro urbano de Natal. O trânsito começa a se intensificar.

Paradoxo: Parece contraditório, mas na estrada sentia-me mais seguro. Ao chegar em uma grande cidade, devo redobrar a atenção no trânsito.

BR 101 passando por dentro da cidade







Arena das Dunas - Natal - RN.


Neste ponto, perguntei a um guarda de trânsito, como faço para chegar à rodoviária. Ele me vendo com a bicicleta, disse que fica muito longe. Eu, na hora, até me assustei. Será que a rodoviária mudou de endereço? Só depois que ele explicou o caminho, entendi que o local era o mesmo. Apenas estava ocorrendo que, do ponto de vista do guarda, três quilômetros era "muito longe", e para mim, já era "logo ali".

Atravessei esta Avenida próxima a Arena das Dunas em direção à Rodoviária. Observei um engarrafamento até onde a vista alcança, lá no topo da subida. 

Às 08:00 consegui chegar à Rodoviária de Natal.
Comprei a passagem Natal -Recife na Empresa Progresso para as 09:00h.
Bilhete: R$ 70,00 já incluso taxa de embarque. A bicicleta foi embarcada como bagagem, sem qualquer questionamento. Liguei para minha esposa e meu filho mais velho se prontificou a me apanhar na Rodoviária de Recife às 14:00h, horário previsto de chegada em Recife.
Dentro do ônibus, durante a viagem, alguns passageiros conversavam em outra língua. Sem dúvida eu estavam em companhia de turistas estrangeiros.

Voltando de ônibus para Recife. Logo no início da viagem de ônibus, uma parada de 20 minutos num belo restaurante para o café.
28 km pedalados no dia.
11,7km/h de velocidade média no dia
2h20m pedalados no dia.


Conclusão:

Contei ao todo, 21 municípios que atravessei percorrendo de bicicleta nesta viagem:

Recife - PE
Olinda - PE
Paulista - PE
Abreu e Lima - PE
Igarassu - PE
Itapissuma - PE
Goiana - PE
Caaporã - PB
Alhandra - PB
Conde - PB
João Pessoa - PB
Bayeux - PB
Santa Rita - PB
Rio Tinto - PB
Mamanguape - PB
Canguaretama - RN
Goianinha - RN
Arês - RN
São José de Mipibú - RN
Parnamirim  - RN
Natal - RN

Além das pouquíssimas mudas de roupa e artigos de higiene pessoal, alguns itens eu considerei indispensáveis levar na cicloviagem:
2 câmaras de ar reserva.
2 litros de água em cada etapa da viagem.
Chave estria 15.
3 espátulas para pneu.
Bomba de ar.
Bloqueador solar fator 50.
Capacete
Luva para proteger a mão do sol e aumentar o conforto e segurança.
Boné de ciclista para proteger, além do rosto, as orelhas do sol quente.
Manguito para proteger os braços do sol.
Calça comprida para evitar queimadura solar nas pernas.
Tênis com meia.

A viagem de bicicleta me proporcionou e ao mesmo tempo me exigiu:
Disposição
Alegria
Persistência
Força de vontade
Determinação

Tive a oportunidade de:
Respirar fundo
Beber muita água
Ter bom humor
Acordar cedo junto com os primeiros raios do sol
Manter pensamento positivo
Curtir cada instante da viagem ao invés de ficar afobado para chegar logo
Admirar a natureza
Sentir o calor envolvente do sol
Apreciar a sombra debaixo de uma árvore
Respirar o aroma das flores silvestres
Perceber o vento acariciando seu rosto.
Agradecer ao frio relaxante da chuva.
Viver e vibrar intensamente!

Há dois anos e meio, quando redescobri a bicicleta, fiquei exausto ao fazer o primeiro percurso de 6 km entre minha casa e o trabalho. Achava longe e parava para descansar e tomar água no meio do caminho.
Nesta viagem, aprendi que não há limites intransponíveis ou obstáculos impossíveis de serem superados se decidirmos firmemente. Isto vale tanto para a viagem de bicicleta como para a grande jornada que é a nossa vida.

Agradeço a Deus por ter-me permitido realizar mais esta viagem em Sua Proteção.
Agradeço a minha esposa e meus filhos pelo apoio.
Muito obrigado aos meus pais!
Foram 316 km pedalados de pura emoção e alegria.

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