quarta-feira, 23 de julho de 2014

Viagem a Pipa - RN

Durante anos a fio utilizei o carro como principal meio de transporte e ficava cada vez mais estressado com o trânsito e estilo de vida sedentário. 
Há três anos, ao me deparar "ao acaso" com sites na internet sobre cicloturismo e cicloviagens (vide links que recomendo na barra ao lado), despertou em mim a vontade de voltar a pedalar. Resolvi comprar minha bicicleta e logo, como paixão a primeira vista, redescobri o que uma bicicleta pode significar na VIDA...
Noooooossa! Quanta felicidade! Que sensação de leveza, liberdade e simplicidade a bicicleta proporciona!
Encher de ar os pulmões e poder me locomover a vontade, sem qualquer limitação ou empecilho! Praticamente nenhum caminho, por mais engarrafado, estreito, íngreme, alagado, ou mesmo não existindo caminho, pode me deter se estou numa bicicleta!
Através da bicicleta, pude voltar a sentir o calor do sol, o frescor da chuva, o vento, a claridade ofuscante do dia, o escuro ou silêncio da noite, o som das folhas das árvores ou da correnteza de um rio, o cheiro das flores e das florestas pelo caminho. 
Quando estou de bicicleta, não me sinto mais enclausurado numa caixa chamado carro, preso nos cada vez mais frequentes e intensos congestionamentos. Percebi o quanto o meus sentidos estavam "anestesiados" com a utilização excessiva do carro. Quando estou com os vidros fechados, dentro do ar condicionado do carro, não sinto calor nem frio, não percebo se o sol está brilhando ou se está nublado, se estou numa subida ou numa descida, não consigo cumprimentar as pessoas, não sinto o cheiro, o vento, o som da natureza. A bicicleta, pelo contrário, me expõe as mais variadas e intensas emoções profundamente gratificantes de SIMPLESMENTE ESTAR VIVO!!!
Hoje, aos 48 anos, sinto-me revigorado e rejuvenescido. Posso afirmar, sem exagero, que estou mais disposto física e mentalmente do que quando eu tinha 20 anos.
Em retribuição a Deus que me mostrou este caminho feliz de viver em harmonia com a natureza, quero incentivar o uso da bicicleta e espalhar esta felicidade ao maior número possível de pessoas!

Na noite de 19 de julho de 2014, a convite do amigo Saulo, tive a oportunidade de, junto com um grupo de 36 ciclistas do Pedala Olinda, iniciar a viagem de bicicleta a Praia da Pipa-RN.

Por volta das 19:30 estávamos na concentração, no quiosque na Av. Beira Mar de Olinda.

Antes do início da viagem, todos, de mãos dadas, fizeram uma oração em gratidão a Deus pela concretização da viagem e pedindo Sua proteção e orientação. Com este belo gesto, pude perceber de imediato a organização, a preparação, planejamento minucioso e a preocupação com o bem-estar e segurança dos participantes do grupo comandado por Sardinha.

Às 20:00 pontualmente, estávamos todos prontos para iniciar a viagem de bicicleta.
A Kombi de apoio teve problemas para engatar a marcha e atrasou em 15 minutos a partida.
Problema contornado rapidamente, às 20:15 já estávamos pedalando.
Além da Kombi, mais duas vans foram contratadas para o apoio para se encontrar com o grupo no domingo de manhã.

Pedal noturno pela área urbana em Olinda, no início da viagem.

Logo estávamos na zona rural, pedalando pelo largo acostamento da BR 101.
Após aproximadamente duas horas de viagem, estávamos em um ponto completamente escuro. Durante a pedalada pela noite, ao olhar para cima, pude contemplar o céu sem nuvens. A noite estava estrelada. Nunca mais na vida havia visto um céu com tantas estrelas. Não tenho dúvidas que foi devido a escuridão da estrada. Apenas o pequeno feixe de luz das minúsculas lanternas das bicicletas cintilava pelo caminho. Há coisas na vida que pelo menos uma vez, você precisa fazer antes de morrer. Contemplar o firmamento infinito e perceber a vastidão do universo pelo número incalculável de estrelas em um local completamente escuro é uma das experiências mais fantásticas que se pode ter. Não pude enxergar nada ao meu redor. Sabia pela experiência anterior da minha viagem a João Pessoa e a Natal de bicicleta, que o local que estava percorrendo é rodeado de canavial até onde a vista alcança. Não dava para ver paisagem nenhuma, mas em compensação, o que a primeira vista pode parecer desvantajoso e assustador, revelou-se em algo completamente maravilhoso que preenche a alma de júbilo. O frescor da madrugada em um ponto inabitado onde só é possível enxergar as estrelas no céu!


Após 55 km pedalados em 3 horas sem paradas, chegamos em Goiana-PE, por volta das 23:30h.
Foi nos servido um lanche com frutas, doces, café, água.
Após descanso de 20 minutos programados, retomamos a viagem. A próxima parada prevista seria na entrada da cidade de João Pessoa-PB, no Posto Pichilau, às 3:00h da madrugada do dia 20.


No trajeto entre Goiana-PE a João Pessoa-PB, há uma enorme subida de 2 km com elevação de 133metros. Fica logo antes da divisa entre Pernambuco e Paraíba. Superei sem maiores problemas, a maior subida do trecho. Em pouco tempo alcancei os mais velozes do grupo que estavam aguardando no topo da subida. Juntos esperamos os retardatários, que logo também chegaram.


Depois vieram mais três grandes subidas, porém um pouco menores que a primeira do trecho.
Já na terceira subida, eu e algumas pessoas percebemos que no nosso ritmo, poderíamos ficar para trás do grupo. Sardinha sugeriu eu entrar na Kombi para descansar.
Já havia outras pessoas na Kombi, que estava lotado com bagagens e ciclistas cansados ou que tiveram problemas mecânicos nas bicicletas. Havia inclusive um ciclista que estava com cãibras. Com muito aperto, consegui um espaço na Kombi.
Durante a viagem de Kombi, houve um momento de preocupação pois as dores daquele ciclista estavam aumentando a ponto de precisarmos parar a Kombi para ele poder estender a perna e ficar deitado no acostamento da BR101 por alguns minutos. Pelo rádio-comunicador, a motorista da Kombi avisou aos demais integrantes que um ciclista estava passando mal e que poderíamos nos atrasar.
Meu amigo Saulo, que me convidou para esta viagem, estava pedalando disparado na frente. Quando ele recebeu a notícia sobre o atraso da Kombi, ficou preocupado, pensando que estavam se referindo a mim. Imaginou que eu não tinha aguentado o ritmo e estaria passando mal. Quando me reencontrei com Saulo, logo ele perguntou se eu estava melhor. Respondi que eu não tive nada, apenas outro ciclista estava com câimbras e ele se tranquilizou.

Após aproximadamente 10 km dentro da Kombi apertada, a corrente da bicicleta de outro ciclista arrebentou e ele teve que subiu na Kombi lotada. Para dar espaço, decidi descer do veículo, retirei minha bike e continuei o pedal com demais companheiros até a parada em João Pessoa - PB.


Chegamos em João Pessoa às 3:30h.
Lá tivemos uma hora de descanso.
Assim que cheguei na parada, realizada no Posto Pichilau, fui logo tomar um banho revigorante.
Ao voltar do banho, vi os colegas já saboreando um belo e saboroso "banquete", do qual, obviamente, fiz questão de participar. O pessoal do apoio estava nos servindo quentinhas com enormes fatias de inhame com charque, galinha ou guizado.


Em Baia Formosa, poucos minutos antes das 9:00h da manhã do domingo, iniciamos o último e melhor trecho da viagem.


Enfrentamos mais algumas subidas impiedosas.
Passamos por dentro de uma Fazenda.

Encaramos de frente uma trilha de barro, terra batida, areia.
Muito mato.
Contato direto com a natureza exuberante.
Muito verde.
Belíssima praia.
Beleza encantadora.

Fizemos a travessia de Baia Formosa na Balsa.
Fotografei parte do grupo subindo no primeiro andar da balsa.
Atravessando o rio.


Deparamos com outro rio.



Chegamos nas falésias de Pipa.