sexta-feira, 3 de maio de 2013

Recife a João Pessoa de bicicleta

Havia decidido aproveitar bem os últimos dias de minhas férias.

Resolvi fazer uma cicloviagem de Recife a João Pessoa, com distância de 126 quilômetros, que vinha planejando há alguns meses. O objetivo era chegar a Ponta do Seixas, o ponto mais oriental das Américas.
Alguns relatos de ciclistas dão conta que é possível fazer esse percurso em 5 horas, seguindo pela BR-101, cujo trecho está praticamente todo duplicado e o acostamento perfeito.
Como não sou atleta, pelos meus cálculos, em ritmo moderado, à velocidade média de 15km/h a viagem levaria 8 horas e meia. Mas como prefiro em ritmo leve, com velocidade média de 12 km/h a viagem duraria 10 horas e meia, incluindo paradas para descanso e lanche.

Pesquisei a altimetria no site http://www.gpsvisualizer.com/profile_input, inserindo a rota obtida no Google Maps.

5:00 horas da manhã do dia 02 de maio, o despertador toca. O dia amanheceu bastante chuvoso. Aguardei até 6:00 h e o tempo melhorou, me preparei e às 7 horas da manhã, na companhia de Deus, saí de casa.
A previsão do tempo era de tempo nublado com possibilidade de chuva rápida a qualquer tempo no decorrer do dia com apenas 1 mm de precipitação.

Pedalando em minha mountain bike, em poucos minutos, alcancei a BR-101. Havia um movimento intenso de carros, ônibus, caminhões e motos no sentido contrário. Era horário de rush, muitas pessoas indo ao trabalho de carro. Nas fotos seguintes, um longo congestionamento se forma.



Agora faltam 60 quilômetros para chegar à divisa do estado de Pernambuco com Paraíba, e 114 km de objetivo da viagem que é João Pessoa.



BR-101 Norte no sentido Abreu e Lima, o engarrafamento quilométrico ainda se estende.


Parei em uma conveniência de um posto de gasolina e comprei um litro e meio de água mineral e enchi as três caramanholas.


Já chegando em Abreu e Lima, no cruzamento da BR 101 com PE-15, um contratempo: emaranhado de fios de arame jogados no acostamento se enroscaram na minha bicicleta de tal forma que a roda traseira ficou inteiramente travada. Percebi que eu não conseguiria tirar aquele entulho com as mãos. Mas olhei o lado positivo da situação: graças a Deus, não caí da bicicleta nem houve quebra de alguma peça.  Tive que empurrar a bicicleta com o pneu traseiro levantado até uma oficina de carros que avistei a uma distância de 400 metros. Fui bem atendido pelos funcionários da oficina mecânica. Com alicate, rapidamente um dos mecânicos resolveu o meu problema, sem cobrar nada.
Apesar de estar relativamente prevenido, pois estava levando duas câmaras reservas, chave de roda e espátula, acho útil levar um pequeno alicate nas próximas viagens.


Problema resolvido, com atraso de quase meia hora, continuei adiante.

Antes de chegar ao centro de Abreu e Lima, o trânsito de carros está bem lento e congestionado. Como estou de bicicleta, prossegui sem ser afetado pela lentidão. Mais adiante, no centro daquela cidade, entendi a causa do engarrafamento: colisão lateral entre um caminhão e um Corsa, nada grave, apenas danos materiais.



Chegando a Igarassu, reparei no monumento da foto abaixo que fica a beira da BR-101. É curioso que eu nunca tinha percebido antes, quando passava de carro.
Ali perto, debaixo de uma árvore, comprei água de coco e saboreei na sombra.


Abaixo: Uma das primeiras longas subidas.

Por conta do sol forte, apliquei bastante bloqueador solar com fator 50.


Agora já estou chegando na entrada para as praias de Carne de Vaca e Ponta de Pedras.



Ao longo do trecho pernambucano, há várias fábricas sendo construídas, como a da Fiat e Hemobrás em Goiana e Ambev em Itapissuma.


A distância diminui.

Cheguei em Goiana, praticamente metade do percurso, ao meio dia.
Parei em um posto de combustível com conveniência. Posto BR em frente a passarela no arco da entrada da cidade. Bom atendimento, local limpo. Parada estratégica para descanso e alimentação.
Lanchei suco, água de coco e sanduíche americano.
Quando vi o relógio, já era uma hora da tarde.
Já passava da hora de prosseguir viagem, pois pretendia fazer a parada de 30 a 40 minutos,

Saindo de Goiana e após superar uma longa subida, finalmente cheguei a divisa do Estado.
Agora já estou na Paraíba!




É importante levar bastante água potável. Na minha bicicleta coloquei além do suporte no quadro, mais dois suportes no garfo. Dessa forma, consigo levar um litro e meio de água nas três caramanholas.
Mesmo assim, eu quase fiquei sem água no trecho entre Caaporã e Alhandra, onde enfrentei de vários quilômetros com muitas subidas, em que eu não encontrei lugar que pudesse comprar água ou alimento.
Observei que o acostamento está excelente para pedalar ao longo de todo o trecho recentemente duplicado da rodovia, o que facilita o deslocamento de bicicleta.



Já quase chegando em João Pessoa, ao entardecer, Cagepa, ETA Gramame.


Neste ponto (foto abaixo), ao fundo, lá embaixo, já avisto a cidade de João Pessoa!
Fiquei muito animado e senti a alegria de concretizar um objetivo.
Mas era uma alegria diferente. É uma felicidade que somente que já realizou uma viagem de bicicleta conhece.

Cheguei em João Pessoa às 17 horas.
Parei num posto de gasolina e tomei um cafezinho.
Liguei para minha esposa e falei que deu tudo certo. Que acabei de chegar na cidade e que eu tinha duas opções: ir direto para a rodoviária e apanhar um ônibus para Recife ou pernoitar em João Pessoa. Por conta do horário, concordamos em eu pernoitar.

Começou a escurecer e o trânsito estava ficando intenso.
Acendi as lanternas traseira e dianteira da bicicleta.
Peguei a BR-230 no sentido leste e segui pela ciclovia da Av. Hilton Souto Maior em direção a Ponta do Seixas.
Pouco antes de chegar na Estrada da Penha, achei uma pousada.
Bom atendimento com instalações razoáveis.
Paguei R$ 70,00 para pernoite.
O dono do hotel pousada perguntou se eu estava participando de alguma corrida. Eu disse que não. Respondi que eu estava viajando de bicicleta. Ele ficou satisfeito e deixou eu entrar com a bicicleta no quarto.
Ao lado da pousada tinha uma pastelaria muito agradável e bem decorado.
Pedi um pastel de carne com azeitonas e suco de laranja com cenoura e gengibre. Muito bom mesmo!
O dono da pousada veio bater um papo comigo na pastelaria. Explicou a razão de ter perguntado se eu estava participando de uma corrida: Ele disse que certa vez, quatro ciclistas se hospedaram em sua pousada num quarto com dois beliches. E permitiu que eles entrassem com as bicicletas no quarto. Acontece que os ciclistas estavam participando de uma corrida num dia de muita chuva! A pousada ficou imunda, pois a cada competição, eles voltavam para a pousada e entravam com as bicicletas cheias de lama. Os ciclistas ainda usaram as toalhas do hotel para limpar as bicicletas no quarto! As toalhas ficaram imprestáveis, cheias de graxa! Ele ainda me contou que não pôde fazer nada, pois ele próprio tinha autorizado os ciclistas entrarem com as bikes no quarto. Tive que fazer esforço para conter o riso, ao imaginar aquela cena lamentável, mas cômica.


2º dia:
Acordei por volta das cinco horas, mas só me levantei lá pelas seis horas.
Saí da pousada às 6:45h. O dia amanheceu ensolarado.

Segui pela Estrada da Penha até alcançar a PB-008.


Pela bela rodovia PB-008, onde vi vários ciclistas com suas bicicletas de corrida, prossegui uns quatro quilômetros no sentido sul.
Através de uma estrada vicinal à esquerda, cheguei a Praia da Penha.




A faixa de areia dura da praia estava ótima para pedalar. É algo realmente fantástico, estar numa bicicleta, numa bela e tranquila praia, de manhã cedo. Manhã ensolarada... Sentindo a brisa do mar...  Respirando ar puro... Contemplando a natureza.


Pude desfrutar de um passeio em uma cidade com muitas ciclovias e ciclofaixas, como esta da Av. Panorâmica.

Atingi o objetivo da viagem! Cheguei em Ponta do Seixas! O Ponto mais Oriental do Brasil e do Continente Americano!



No quiosque, pedi uma água de coco e o vendedor perguntou de onde eu vinha e para onde eu vou.
Quando respondi, ele ficou admirado e disse que eu tenho muita disposição. Umas quatro pessoas que trabalham nos quiosques vizinhos vieram me cumprimentar ou olhar a bicicleta.



Prossegui a viagem rumo a praia de Cabo Branco.

Vista espetacular da cidade.

Belíssima descida para a praia de Cabo Branco.


Aqui eu fiz o meu café da manhã. Pedi um cheese-salada e café. E mais água de coco para levar para viagem.


Ainda pela manhã, fiz o caminho para a rodoviária de João Pessoa.




Cheguei na Rodoviária de João Pessoa às 10:30h e comprei a passagem para Recife na Empresa Viação Bonfim. O horário de partida do ônibus era 11:00h. Preço da passagem: R$ 20,00 + R$ 1,50 de taxa de embarque. Não há cobrança de volume da bicicleta. Embarquei a bicicleta no porta-malas do ônibus sem qualquer empecilho.
Quando cheguei, às 13h, no TIP, Rodoviária do Recife, ao desembarcar a bike, o motorista disse que com uma bicicleta dessa, daria até para ir pedalando a João Pessoa. Tive que explicar que esta não é uma bicicleta de corrida. É uma simples mountain-bike, que a maioria dos cicloviajantes utilizam devido a posição mais confortável para longos percursos. Eu disse que estou voltando justamente de uma viagem que fiz de bicicleta àquela cidade.
Meu filho Yoshio veio me buscar de carro na Rodoviária.

Distância total pedalada: 151 km
Baixas: Nenhuma. Graças a Deus, não tive nem mesmo um pneu furado. Apenas uma caramanhola térmica que perdi no caminho entre a pousada e Farol de Cabo Branco. Acho que pode ter caído do quadro, na areia da praia e eu não percebi.

Agradeço a Deus pela oportunidade de concretizar esta viagem, positiva em todos os sentidos.
Sensação indescritível de realização, liberdade e superação. É um passeio revigorante.

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Aprendi a pedalar na infância. Mas depois de adulto, passei vários anos sem bicicleta. Eu estava ficando cada vez mais estressado com minhas locomoções feitas exclusivamente de carro no trânsito caótico.
Há dois anos, me deparei, ao acaso, na internet, com um artigo de Antigão, um senhor de 62 anos que aos 58 anos voltou a pedalar e que já fez várias viagens de bicicleta.  Fiquei fascinado pelo estilo de vida saudável em contato com a natureza, pela bicicleta e cicloturismo. Comprei de imediato uma bicicleta para mim e outra para minha esposa. Passei a utilizar com intensidade este maravilhoso meio de transporte. Muitas vezes deixo o carro na garagem e vou de bicicleta ao trabalho. Nos finais de semana e feriados, eu e minha esposa costumamos pedalar juntos. Hoje estou com 47 anos e sinto-me muito melhor física e psicologicamente do que há alguns anos de vida sedentária. Quem puder e ainda não pedala, comece o quanto antes. Não espere a oportunidade aparecer para só então pensar em pedalar. Tome a decisão. Você verá que é realmente encantador o prazer de pegar a estrada e apreciar a natureza numa bicicleta!

Um abraço
Ronaldo

6 comentários:

  1. Parabéns pela sua vitória.
    Eu e uns amigos já fizemos três viagens de bike de Paulista para Acaú na Paraíba. Este ano estamos tentando fazer esse mesmo pedal pela quarta vez.

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  2. Parabéns meu amigo pela sua excelente aventura. Em dezembro/2015, estarei fazendo o mesmo percurso que vc fez. Espero ter a mesma sorte e a mesma alegria com a fé do meu Sr. Jesus.

    Abraços,

    Dudu Borges
    (dudueerika@gmail.com)

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  3. fantástico... logo logo quero fazer algo parecido, mas um pouco mais curto porque saio de paulista. Espero fazer em menos tempo (vou com uma bicicleta de pista). Parabéns!

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  4. Muito massa!! Sempre vou a Recife e fico com vontade de voltar pedalando, estou pensando seriamente fazer isso da próxima vez que eu for a Recife.
    Vou sair 8 horas mais cedo e a minha esposa sai logo depois.

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  5. Tenho vontade de ir de FAZER A MESMA COISA, O PROBLEMA É O SOL

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